22/03/2012

Eu, Eu mesmo e minha Big-Gun!

Good morning, Vietnam!


Hão de saber quanto tempo passou desde os meus primeiros passos em uma prancha.

Sob uma perspectiva virgem daquilo em que eu estava lidando, não houve demora em visualizar o oceano e as ondas de forma antes nunca vista.

Dez anos se passaram e eu estava convicto que aquela mesma sensação – de desconhecimento – seria quase impossível de reprisar. Experiências foram criadas, opiniões foram firmadas, formatos de prancha e estilo de surf me nortearam no que eu deveria focar e no que deveria descartar.

Poderia contar nos dedos todos os detalhes renovadores necessários para satisfazer a minha gana sobre as pranchas, as quais, digo de passagem, foram objetivadas a reviver de forma legítima o espírito e a essência antiga.



Em primeiro lugar, ao longo de toda essa minha trajetória, foi a fixação na quilha “D” e a um outline mais detalhado à época. Inicialmente, percebi que as pranchas de poliuretano e de isopor (epoxi) eram muito limitadas para as minhas exigências particulares. O que eu poderia dizer quando os blocos já vinham pré-moldados com seus bicos mais acentuados do que uma shortboard?

Em meados de 2007 fui apresentado à marca Siebert, data essa em que o próprio empreendedor Felipe encontrava-se na adolescência de sua jornada.

Tanto eu, quanto o próprio Felipe, aprimoramos nossos estudos sobre as pranchas californianas, contemporâneas e antigas. Com um preciso cotejo entre ambas as cenas, a Siebert abriu os olhos da cultura retro-surfística do Brasil, a qual se apresentava adormecida ou humilde demais.

Com essa política conservadora – mas moderada – do nosso esporte, percebi que, com a ajuda da marca, poderia satisfazer todas as minhas exigências. Poderia não! Pude e posso!



O grande problema dos demais shapers é a atitude paternalista e missionária de levar as medidas progressivas para as pranchas clássicas. Ou seja, muito embora fossem contratados a fazer uma prancha clássica, acabavam voltando-se para certos apegos progressivos, subtraindo toda a essência do que deveria ser feito.

Foi desse trabalho magnífico com a Siebert que nasceram três pranchas em prol desse escritor. A última, construída ao longo de 2010, objeto do presente artigo, trata-se de uma réplica de uma Big-Gun de 1957, com 11.5 pés de comprimento, pesando 20 kg. Seu desenho foi criado pelo surfista e mestre Pat Curren para ondas de Waimea Bay, Makaha e Sunset Beach.



No começo, houve hesitação sobre a sua produção, bem como concernente ao seu êxito sobre as ondas. Mas foi cedido ao acaso. A prancha foi concluída, testada e aprovada. Nunca pensei que aquela mesma sensação de surfar um pranchão pela primeira vez iria ser novamente vivida. Eu estava equivocado. O seu êxito em ondas grandes fez concluir o foco de toda essa produção. Ao mesmo tempo em que foi a prancha mais difícil de conduzir, posso dizer inquestionavelmente que foi a melhor prancha a ser surfada.



Esse aspecto é o que merece maior apreciação: muitos, tendo como ponto de vista o surf progressivo – a visão atual e ordinária – poderão ter problema em tentar compreender o “feeling” de surfar com uma prancha de três metros e meio e 20kg. Em outras palavras, antes de tentar entender o modo correto de surfar uma prancha clássica, a pessoa deve – trata-se de um dever aqui – subtrair qualquer ponto comparativo da cena em que está vivendo atualmente.



A evolução do surfista com o seu surf não se trata de aprimorar as suas manobras progressivas. A evolução do surfista com o seu surf é relativa e não absoluta, de modo que surfar uma prancha maior e mais pesada, de difícil movimentação, não se configurará como uma regressão e sim uma demonstração de habilidade, tanto quanto a habilidade necessária para malabarismos sobre uma shortboard.



Aqui, o surf clássico, em comparação ao progressivo, encontra-se num patamar horizontal e não vertical, como muitos surfistas progressivos pensam. Em outras palavras, o surf clássico com pranchas de difícil controle não é inferior, tampouco superior ao atual, mas sim de outro patamar.



Desse modo, o que se deve ter como ponto de vista ao obter uma prancha clássica, é que o seu surf em si é de difícil compreensão. É um surf que exige inteligência e muita ponderação. Um surf de linha e de trilho. Portanto, a evolução do surfista não está na melhor marca, não é a prancha em que o campeão de campeonatos mundiais está utilizando e não é a mais cara, mas sim aquela em que faz o entusiasta voltar às primeiras sensações sobre a prancha, com uma percepção virgem e ingênua: como o surf nunca deveria ter deixado de ser.



Lucas Ávila Búrigo