17/12/2009

Pictures: Parte II

Bob McTavish. Hawaii. 1965.

Bob McTavish. Hawaii. 1965.

Mike Hynson. Hermosa Beach, California. 1964.

Dell Cannon (topo) & amigos. Sunset Beach, Hawaii. 60's.

Desconhecidos. 50's. California.

Mike Doyle. 60's. California.

Dora & companhia. 60's. Malibu.

Marsha Bainer. Bing Copeland Surfboards. 60's. California.

Anos 40 e suas paddles boards.

Early 50's e suas novas madeiras Balsa.

Desconhecido.

Pelo incrível, a minha preferida. Seaside Heights.

Moana Hotel, 40's e seus salva-vidas.

Desconhecido. 60's. Sunset Beach, Hawaii.

Desconhecido. 60's. Sunset Beach.

Desconhecido. Redondo, California. Circa 1963.

Jeff Hakman. 1962. Sunset Beach, Hawaii.

22/11/2009

Board Room

Bem vindos a mais um capítulo do Back To Single Fins. Devo confessar que nesses dois meses passados o blog foi esporadicamente atualizado, consequentemente muitos leitores perdem a linha de raciocínio devido a inércia entre as atualizações. Este escritor e historiador explica que final de semestre as obrigações se acumulam e sobram muito pouco tempo para escrever, neste hobby que eu amo tanto.

Assim como o lançamento do filme Riding Giants que foi um grande sucesso, está para vir em 2010 o filme Board Room, norteado simplesmente aos shapers da época de 50 e 60. Shapers como: Michael Hynson, Donald Takayama. Bill Stewart, Rich Harbour, Terry Martin, Bruce Jones, Dick Metz, Renny Yater, Hap Jacobs, Robert August, Bing Copeland, Dick Brewer, and Larry Gordon. Não há o que se falar além de esperar para ver o que acontece.

De tantos nomes famosos de shapers, o principal, o maior shaper da época, o maior empreendedor não está entre esses neste filme. Não menosprezando os demais, mas, falta um pouco de Greg Noll, e claro, Pat Curren, no filme.

19/11/2009

Leroy Grannis: Parte III

John Severson, realizador de filmes de surf editor de publicações na mesma área, foi um dos primeiros a explorar o potencial das fotografias de surf em publicações especializadas. Em 1960, publicou The Surfer, um caderno de trina e seis páginas com fotografias e desenhos de sua autoria, que pretendia vender nas exibições do seu documentário Surf Fever. A publicação registrou um grande sucesso e a primeira tiragem de 5.000 exemplares esgotou rapidamente. Em 1961, avançou com uma edição trimestral que, um ano mais tarde, se tornou bimestral. Severson contratou uma pequena equipe e tornou-se editor integral. Em breve, Grannis iniciaria uma colaboração com a revista Surfer e com a efêmera Surfing Illustrated.

As primeiras revistas de surf resumiam-se a projetos de garagem, criadas e distribuídas no circuito fechado dos adeptos deste esporte. Quando surgiu a Surfer, a imprensa era um meio de massas que começava a abrir as portas à editores com orçamentos limitados, como Severson, e os gigantes do cinema tinham começado a explorar este esporte em filmes como Gidget (1959) e Ride The Wild Surf (1964). Na Califórnia do Sul, as fotografias dos surfistas em ação e o grafismo colorido do surf atraíam a indústria televisiva e cinematográfica de Hollywood. “De repente, surgiu a oportunidade de distribuição maciça de uma imagem feita pelas nossas mãos”, afirma John Van Hamersveld, antigo diretor artístico da revista Surfer e criador do lendário cartaz fluorescente do filme The Endless Summer. “Através das revistas ou dos filmes de surf, a media levou esta pequena cultura isolada até os produtores da cultura de massa”.


Em 1966, a “mania” do surf de há cinco anos tinha se tornado uma verdadeira cultura para os jovens, a qual não faltava uma linguagem, música, moda, publicações, carros e um código de honra próprio. O interesse do grande público no surf atingia níveis inéditos, fazendo a fortuna de um pequeno cartel de fabricantes de produros de surf da Califórnia do Sul, também conhecido como “Dana Point Máfia”. Este esporte ainda na sua infância, que mais se assemelhava a uma religião do que um passatempo de fim-de-semana, beneficiou de um forte impulso mediático com o lançamento nacional nos EUA, em julho de 1966, do filme The Endless Summer realizado por Bruce Brown. Este documentário criativo e acessível proporcionou ao mundo desconhecedor do surf (as “legiões de frustrados”, como o grande surfista Phil Edwards lhes chamava) a primeira perspectiva legítima da cultura do surf insular, tendo despertado um enorme interesse. Estava aberta uma nova corrida ao ouro.

Em San Diego, os edis da cidade e os organizadores do campeonato mundial de surf não acessavam de se congratular mutuamente pela respeitabilidade que surf adquiria nos últimos tempos. Com o campeonato que se avizinhava, a organização esperava inverter uma maré de “hooliganismo no surf” e má fama que acossavam o esporte desde a sua primeira explosão, na sequência do lançamento do filme Gidget. A câmara de comércio de San Diego registrou um forte aumento do turismo, à medida que este esporte de praia atrativo e de rápido crescimento conquistava a atenção da juventude consumista do país a um ritmo alarmante alucinante.



Ao mesmo tempo, porém, começava a instalar-se uma onda de conservadorismo neste modo de vida outrora boêmio. Uma campanha liderada sobretudo pela revista Surfer de Severson tentava extirpar os elementos “indesejáveis” do meio surfístico. A linha editorial da revista ganhou um tom mais peremptório, com editores convidados e cartas de leitores escolhidas a dedo se regozijavam com a derrota infligida pelo surf organizado aos desordeiros deste esporte, também conhecidos como hodads, que tinham manchado o nome do surf com partidas de mau gosto e uma conduta pouco própria para com as figuras de autoridade. O surf “já não é apenas para excêntricos”, declarou John Hannon, um dos principais fabricantes de pranchas da Costa Leste, numa entrevista à Newsweek. “São jovens limpos e bem arranjados, que não tolerarão os desordeiros”.



O tiro de partida da “Revolução das Pranchas Curtas” e a conseqüente desintegração da simplicidade do meio surfístico do princípio dos anos sessenta, foi disparado a 2 de Outubro de 1966, em Ocean Beach, San Diego. Foi nesta praia que, com o céu nublado e uma fraca ondulação, Nat Young venceu o campeonato mundial de surf com uma abordagem radical e incisiva, que deixou a elite da altura boquiaberta. Quando David Nuuhiwa, o pequeno havaiano favorito, famoso pelos seus longos e elegantes noserides, insistia com Young que era preciso formar uma comunhão com a onda, este respondia dizendo que não queria uma comunhão com nada. A retórica de Young era tão impertinente como o seu equipamento. Ganhou o campeonato com uma “Magic Sam”, e uma prancha que ele próprio fizera e que media 9,4 pés (2,90 metros), um pé (30 cm) a menos do que o padrão da altura. Concebida em conjunto com outro australiano, Bob McTavish, a prancha estava equipada com uma quilha comprida com um formato de uma cimitarra, que tinha sido criada pelo excêntrico guru do surf norte-americano George Greenough. Da noite para o dia, uma geração de pranchas de surf robustas e sofisticadas viu-se condenada à condição de peças de museu em virtude de uma evolução drástica ao nível da tecnologia, das manobras e das mentalidades. Com a vitória de Young, o surf sofreu um abalo nas suas convenções que durou mais de dez anos. O grande Young, cuja alcunha “The Animal” se devia ao estilo viril, tinha acabado de mostrar o futuro ao mundo do surf. Antes de 1966, a manobra era o hang ten, mas agora valia tudo. Chamavam-lhe “surfar com a mente” e, na opniào de Paul Gross, jornalista da revista Surfer, era “uma deserção em massa de tudo aquilo que acontecera antes”. Porém, na altura, ninguém pareceu dar por isso.


Ao mesmo tempo, as drogas psicodélicas invadiram a cultura do surf como um incêndio descontrolado, abrindo algumas mentes e dando cabo de outras. O surf tornou-se introvertido e alternativo, os jovens que usavam roupas Jantzen deixaram crescer a barba e aderiram a um misticismo Zen militante. Os campeonatos deixaram de se interessar e ninguém queria saber quem ficava em primeiro lugar. Era uma postura de total desinteresse. De repente, o surf deixara de ser um desporto com manobras e troféus, passando a ser encarado como uma forma de equilibrar os fluxos cósmicos em “catedrais cristalinas de vidro derretido”, como referiu um leitor da revista Surfer. Já no início de 1966, Rick Griffin introduzia referências sub-reptícias a drogas nas bandas desenhadas que assinava para a Surfer, o que deixou furiosos muitos dos principais anunciantes da revista. O estilo de vida aventureiro e sem limites tambémlevou a que muitos surfistas se tornassem traficantes de droga internacionais a tempo parcial. “Ou se estava dentro, ou se estava fora”, escreveu Drew Kampion, editor da revista Surfer entre 1968 e 1972. “Ou se tinha, ou não se tinha. Acreditava-se na gravidade ou no espaço. Era-se rígido ou flutuava-se. E havia tanta gente a flutuar.”

Depois de um breve namoro com a respeitabilidade convencional, a cultura surfística voltava a assumir as suas raízes de movimento alternativo ao poder instalado e isso não passou despercebido ao mundo exterior. No seu famoso ensaio de 1966, The Pump House Gang, o crítico da cultura pop Tom Wolfe escreveu que muitos surfistas “estavam a passar do surf para a guarda avançada de outra coisa, o mundo alienado e psicodélico da Califórnia”. A geração de jovens consumistas bem comportados que as empresas norte-americanas acarinhavam tinha dado o lugar a um bando de cabeludos janados, que não hesitavam em fazer um manguito ao materialismo.




O impacto econômico foi profundo. Nos anos seguintes, a maioria das princiapis lojas de surf perdeu clientes ou foi à falência. Na Surfer, as receitas de publicidade registraram uma quebra acentuada, a revista ficou mais peuqnea e a equipe editorial virou claramente à esquerda. Sob onovo regime radicalizado de Kampion, a Surfer tornou-se uma voz ativa da contracultura emergente, celebrando a paz, o amor livre, os tubos e o direito que todos os surfistas tinham de se colocar à margem e apanhar uma grande pedrada. Kampion, que criticava abertamente a maioria dos campeonatos de surf com artigos como “Carma negativo em Huntington Beach” e “A marte de todos os campeonatos”, procurou promover o surf como uma metáfora do equilíbrio cósmico em vez de se deixar seduzir pelos joguetes de marketing. Além disso, fazia campanha contra a escalada da Guerra do Vietnam, que arrancava os surfistas das praias a olhos vistos, e declarou guerra ao presidente Nixon, que se mudara para Trestles Beach em San Clement e mandava encerrar este excelente pico sempre que se instalava na “Casa Branca do Oeste”.


Grannis pertencia a uma outra geração e não se revia nesta nova atitude contestatória do surf. Em bom rigor, tudo aquilo lhe era indiferente. Este antigo combatente da Segunda Guerra Mundial, que tinha ajudado o seu bom amigo Hop Swart a organizar campeonatos para a recém-formada United States Surfing Ass., acreditava que a competição ajudava o surf a crescer como desporto e promovia a sua vertente com melhor aceitação social. Em 1968, Grannis publicou um editorial em defesa de campeonatos de surf de boa qualidade e justos, classificando os seus críticos de “fiteiros”, sem qualquer moral para se queixarem. “Nos últimos anos, não tem parado de crescer o número de artigos assinados por antigos surfistas, colunistas hawaiianos que nunca puseram os pés numa prancha, vendedores de calções ou editores frustrados armados ao pinga relho que tecem fortes críticas aos campeonatos”, escreveu Grannis. “O motivo pelo qual tanto criticam os campeonatos é porque eles próprios já não estão em condições de competir”.


Porém, no final dos anos sessenta, já ninguém ligava à maioria dos campeonatos e nem sequer os outrora famosos Surfer Poll Awards da revista Surfer atraíam as atenções. O mais parecido com um campeonato de surf de nível profissional era uma fantástica competição anticampeonato chamada “Expression Session”, em que os melhores surfistas exibiam as suas proezas sem juízes, pontos nem troféus. “Este foi o ano do desenvolvimento ou mesmo da invenção de muitas coisas: pranchas curtas, fundos em V, baby guns, quilhas flexíveis, curtas e concepção radial de pranchas em geral”, escreveu Kampion em 1968. “É raro o surfista que surfa com o mesmo estilo do ano passado”. Em jeito de resposta, Grannis escreveu um editorial no qual previa que o surf haveria de voltas às longboards e ao noseriding. Apesar da agenda política do mundo do surf, Grannis deixou de empunhar a sua máquina fotográfica para registrar em imagens os melhores surfias, tanto os que usavam pranchas compridas como os que usavam pranchas curtas.


O swell de 1969 tem sido encarado pelo mundo do surf como o final geofísico da década mais secessionista e turbulenta do surf. “Aquilo por que passamos em Dezembro de 1969”, recordou o lendário surfista dos anos sessenta Skip Frye muitos anos mais tarde, “... marcou de certa forma a transição do surf em longboards dos anos sessenta para uma época dominada por pranchas mais curtas. Foi como uma grande limpeza e, a partir dali, nada foi como antes”. Grannis considerava que o tamanho da prancha era uma questão meramente logística e conseguiu colmatar o fosso entre as duas gerações com a sua fotografia. “Eu fotografava surfistas e não pranchas”, diz Grannis, “Para mim, o modo de vida não mudou assim tanto.”

A última fotografia de surf de Leroy Grannis para a International Surfing foi publicada em 1971. No final dos anos setenta, reformou-se da Pacific Bell Telephone e mudou-se de Hermosa Beach para Carlsbad, na Califórnia, onde continuou a surfar e a fotografar. Durante mais de vinte anos, manteve as suas fotografias e negativos cuidadosamente organizadas em dossiês, que guardava em casa. Enquanto um pequeno círculo marginal de surfistas entusiastas transformava o seu modo de vida numa indústria global, uma década primordial da história do surf quase caiu no esquecimento.


Pioneiro do esporte e da respectiva fotografia, Grannis captou a histórai do surf num ponto decisivo da sua evolução e iconografia. Esta retrospectiva das fotografias de Grannis, que vai desde os grandes clássicos e fotografias inéditas encontradas no seu arquivo, convida os leitores a conhecerem um estilo de vida incialmente reservado a um punhado de praticantes e que se transformou numa indústria que movimenta quatro bilhões de dólares. Nos dias de hoje, marcados pela abundância de imagens captadas por fotógrafos de surf profissionais, a simplicidade elegante das fotografias de Grannis e o período que documentou abrem uma janela fundamental para o nascimento de uma cultura. “Eu era surfista e fotografava o que gostava de ver”, defende-se Grannis, com modéstia, “Suponho que se pode dizer que tive sorte."



Bibliografia: Leroy Grannis

25/10/2009

Leroy Grannis: Parte II

Os surfistas eram temas naturais para os fotógrafos e a imagem dos hawaiianos bronzeados cortando as ondas com suas pranchas, tendo como plano de fundo o vulcão Diamond Head, depressa se tornou um clichê em qualquer postal. A imagética do surf sempre foi criada, sobretudo, pelos próprios surfistas. Os fotógrafos de surf eram todos amadores autodidatas e nenhum deles viva da venda de fotografias. Tom Blake, um surfista e shaper pioneiro, construíram uma caixa estanque para a sua máquina fotográfica Graflex em 1929 e entrava no mar para fotografar os surfistas hawaiianos enquanto estes deslizavam com suas pranchas alaia de 12 pés (3.6 metros) nas ondas comrpidas e enroladas de Waikiki.


Ensinou fotografia a Doc Ball, que, por sua vez, teve uma grande influência na formação de Dom James e, mais tarde, Leroy Grannis. Ball era um fotógrafo talentoso, com um olhar dotado, e estava constantemente a experimentar ângulos novos e a construir protótipos de caixa-estanques, para levar as suas máquinas fotográficas para o meio da rebentação. Os cândidos históricos que tirou dos seus amigos e respectivas namoradas captaram o breve período tranqüilo de puro surf que se extinguiu pouco depois do ataque japonês a Pearl Harbor, no Hawaaii, em 1941.

Com o despontar da Segunda Guerra Mundial, o surf californiano registrou um forte declínio, pois a maioria dos jovens surfistas com mais de dezoito anos alistou-se nas forças armadas ou foi chamada a cumprir o serviço militar. Muitos jovens nunca voltaram. Apesar de recém-casado e de ter sido pai de uma menina em 1941, Grannis alistou-se nas Forças Armadas dos EUA dois anos mais tarde. Porém, quando concluiu o curso de piloto da academia, a guerra já tinha acabado, e foi dispensado em 1946. Regressando à Hermosa Beach, Grannis tornou-se engenheiro de telecomunicações e arranjou emprego como instalador de centrais telefônicas para a Pacific Bell Telephone (Grannis continuou a ser reservista da Força Aérea dos EUA e reformou-se em 1977, com a patente de major).


Nos anos que se seguiram à guerra, Grannis surfou esporadicamente, mas o trabalho e os seus quatro filhos consumiam-lhe cada vez mais tempo. No final de 1959, foi-lhe diagnosticado uma úlcera gástrica resultante do estresse tendo o médico encomendando-lhe um passatempo relaxante. A fotografia de surf parecia uma escolha óbvia, pois Grannis vivia pouca distância do mar e o seu filho adolescente, Frank, tinha começado a surfar há pouco tempo. Em junho de 1960, Grannis já tinha construído uma câmera escura em sua garagem e revelado algumas fotografias rudimentares, nas quais estava bem patente a influência de Doc Ball.



Nesse mesmo verão, com uma máquina fotográfica de 35mm originária da Alemanha Oriental, começou a fotografar os surfistas de 22nd Street em Hermosa Beach, uma praia de fundo de areia sem pico definido em South Bay, que atraía um grupo de jovens surfistas desejosos de serem fotografados. O líder incontestável do grupo de 22nd era Dewey Weber, que aos vinte e três anos já tinha entrado em vários filmes de surf e acabara de abrir a sua própria loja de pranchas em Venice Beach, não muito longe dali. Apesar de medir um pouco mais de um metro e sessenta de altura, Weber tinha muita garra e praticava um surf progressivo, motivando o resto do grupo, que incluía Henry Ford, Freddie Pfahler e Mike Suetell, a dar o seu melhor. No final de 1960, Grannis já tinha fotografado e revelado mais de duas mil e quinhentas fotografias.


A câmara escura de Grannis era a coisa mais parecida com um laboratório fotográfico expresso em South Bay e, numa altura em que as revistas de surf tinham uma periodicidade bimestral, os surfistas ansiavam por fotografias suas. “Às vezes, ia direto da sessão fotográfica 22nd Street para a câmara escura e, um instante, se juntava meia dúzia à espera de ver o que tinha fotografado. Depois, convidava-os a entrarem na câmara escura e o calor corporal tornava-se insuportável. Havia dois jovens, Tom e Don Craig, que vivam nas redondezas e vasculhavam o meu lixo, para ver se havia algo que lhes interessasse.”


Pela Pacific Coast Highway, na altura com duas faixas, Grannis demorava apenas quarenta minutos a ir de casa até Malibu, um pico de fundo de rocha desconhecido quando Grannis o surfara nos anos trinta, mas que em 1960 já tinha conquistado fama mundial. Graças às suas ondas perfeitas e também à aproximidade de Hollywood, “The Bu” tornara-se um local genuíno, que todos os verões atraíam a elite do surf. Embora já nessa altura houvesse muita gente dentro d’água a competir pelas ondas, no pico era possível encontrar estrelas do surf como Lance Carson, Johnny Fain, Mike Hynson e o lendário Dora, que dançava nas ondas com um estilo rápido e teatral que ficaria conhecido como hotdogging. A técnica fotográfica de Grannis, estava a melhor e vendeu as suas primeiras fotografias de Malibu à efêmera revista Reef, dando assim início à sua carreira na imprensa. Em novembro de 1961, Grannis fez a sua primeira viagem ao Hawaii, a Meca do surf da altura. Após fotografar ondas pequenas em Waikiki e Makaha durante duas semanas, foi para o mítico North Shore de Oagu. A sua chegada coincidiu com um grande swell e Grannis ficou abismado com a magnitude e a força das ondas hawaiianas. Com uma teleobjetiva de 650 mm, fotografou surfistas como Rick Grigg, Peter Cole e Phil Edwards aventurando-se nos vagalhões côncavos dos infames pico de West Bowl em Sunset Beach.


Grannis regressou à Califórnia com renovado fervor. Nos anos seguintes, triplicou a sua produção e começou a tirar fotografias para publicidade. Tribal e orientada para um mercado sem grandes recursos, a incipiente indústria do surf procurou encontrar no seu seio o design gráfico e as fotografias de que necessitava. Grannis não tinha experiência como fotógrafo comercial, mas resguardava-se em conceitos simples e inteligentes. A fotografia publicitária para Jacobs Surfboards que tirou de Ricky Hatch, um surfista de Hermosa Beach, vestido de fato e gravata e de sapatos calçados caminhando habilmente para a ponta da prancha, entrou para os anais da fotografia de surf. Em 1963, Grannis comprou uma máquina fotográfica subaquática Calypso (inventada por Jacques Cousteau e precursora de Nikonos) e tirou uma fotografia magistral de Henry Ford a executar um bottom turn perfeito em 22nd Street.


Porém, Grannis depressa descobriu que tirar fotografias de surf podia ser perigoso até mesmo para quem conhecia bem o mar. Certo dia, durante uma sessão fotográfica dentro d’água em Sunset Beach, no Hawaii, com a sua Nikonos, uma enorme onda do pico de West Bowl mudou inesperadamente de ruma para o canal, rebentando muito antes do que seria de esperar e encurralou Grannis no seu caminho. Quando olhou para cima, Grannis viu uma parede de sei metros de espuma e três pranchas de surf com mais de três metros projetando-se em direção da sua cabeça desprotegida. Mergulhou por baixo do turbilhão e conseguiu também salvar a sua preciosa máquina fotográfica. Mais tarde, com a ajuda do seu velho amigo Doc Ball, Grannis concebeu e construiu a sua primeira caixa estanque revestida a borracha com ventosas, que lhe permitia trocar o rolo e fotografar dentro d’água com lentes mais compridas e permanecer na relativa segurança do canal de Sunset Beach ou Waimea Bay durante horas a fio sem regressar à praia.


Em terra, Grannis adorava o distanciamento claro e eficaz que a teleobjetiva Century 1000 lhe proporcionava. Vistos a 800 metros de distância, os surfistas soberbamente enquadrados pareciam figuras heróicas numa arena ampla, como Sunset Beach. Porém, foi a sua dedicação ao ambiente que se vivia na praia que hoje preenche uma grande lacuna na memória coletiva do surf. A fotografia de Grannis, em especial do período compreendido entre 1960 e 1965, captou o surf num momento crítico de transição entre culto e cultura. À primeira vista, as fotografias parecem evocar a nostalgia de uma época mais simples e inocente, mas um olhar mais cuidado decerto se aperceberá de que Grannis estava a documentar a rápida evolução do surf para um modo de vida. As suas fotografias capturavam a verdadeira essência das coisas, proporcionando uma ponte entre o mundo das letras das músicas dos Beach Boys e a realidade do ambiente das praias da Califórnia do Sul. A linguagem do surf, a música do surf, a arte do surf, a imprensa do surf, a moda do surf e todos os elementos básicos que atualmente se consideram parte integrante da cultura do surf moderna foram concebidos ou codificados durante este breve período. Grannis foi um dos poucos fotógrafos de surf a afastar a sua objetiva das ondas, para captar todos estes elementos.

Em 1964, depois de uma viagem ao Hawaii repleta de êxitos, Grannis associou-se ao futuro magnata do vestuário de surf Dick Graham e, juntos, fundaram a revista International Surfing (mais tarde, o título foi abreviado para Surfing e continua a ser a segunda revista de surf mais antiga de surf do mundo). Grannis tornou-se editor de fotografia, editor adjunto e fotógrafo principal, cargos que acumulou com o seu emprego a tempo inteiro na Pacific Bell Telephone. Todos os fins-de-semana ia diligentemente fazer a cobertura dos infindáveis campeonatos amadores e de clubes e, com isto, captou a adolescência desajeitada de uma geração de surfistas, que hoje são autênticas lendas. Como muitos tinham a mesma idade do seu filho adolescente, adotava muitas vezes uma postura paternal face aos seus motivos fotográficos, tirando retratos com uma candura que contrasta com uma reticências que um homem de meia-idade poderia ter ao pedir a estranhos para posarem para uma fotografia. Entre os seus mentores e colegas fotógrafos, Grannis optou por uma posição clara que se situava entre a arte e o fotojornalismo. As suas fotografias estavam bem enquadradas, focadas e tinham uma profundidade de campo generosa, o que dava tempo a quem as via de contemplar o ambiente que nelas se vivia. O uso que fazia das películas de baixa velocidade e grão fino, com uma exposição exemplar e meticulosamente revelada, possibilitava ampliações ricas em pormenores. “Para mim, havia fotografias de Grannis uma textura que as transportava para outra dimensão”, afirma Brad Barrett, fotógrafo e editor de fotografia da revista Surfer entre 1968 e 1973.

No início da década de 1960, contavam-se pelos dedos de uma mão os fotógrafos de surf norte-americanos que publicavam as suas fotografias e, à exceção de John Severson, todos exerciam esta atividade a título de passatempo. Porém, cada um deles tinha um estilo bem definido e um ruma próprio. Severson, um antigo professor das artes, privilegiava uma estética despojada e bebop para as suas fotografias. Ron Stoner preferia tons quentes e lustrosos, assim como perspectivas mais intensas e românticas. Ron Church era fotógrafo industrial de carreira, com uma excelente técnica e que possuía máquinas subaquáticas muitos avançadas. As suas fotografias a preto e branco tinham um caráter heróico, mas eram representações por vezes muito frias dos deuses do surf. Grannis, por seu turno, era surfista e sempre vivera na costa, o que se refletia nas sua fotografias, caracterizadas por um imensa genuinidade na representação do ambiente do surf.

12/10/2009

Leroy Grannis: Parte I


Que atire a primeira pedra quem nunca viu sequer alguma foto do não menos importante Leroy Grannis. Tenho o grande prazer em transcrever à vocês um dos vovôs sobreviventes do nosso glorioso esporte. Eis homem que devemos tanto aproveitar sua terceira idade ainda a todo vapor, quanto estudar suas fotos que marcaram muita nostalgia. São poucos surfistas que passaram de tanta transição cultural como este, somando a curiosidade dos meus queridos leitores, além deste ter passado por essas transições ele as registrou: das grandes redwood planks às pequenas e traiçoeiras shortboards. Venho à presença de vocês, transcrever do livro de fotos simplesmente chamado Leroy Grannis, a vida dele. Este livro é de difícil acesso brasileiro, pois em meados de 2007 estava eu dando uma volta em uma livraria da ilha mágica de Florianópolis quando eu avistei um livro muito grande de surf na prateleira mais alta da loja, a regra da livraria não poderia proibir os clientes em ter uma “palhinha” dos futuros produtos. Quando pedi para um funcionário me pegar aquele dito livro para eu dar uma folheada ele apenas me advertiu, “Bom senhor, este é o livro mais caro da loja, por favor, tenha cuidado”. Eu pensei logo em seguida, “Que droga, de tantos livros de autores famosos, artistas, geografia, romancistas que existiam naquela livraria, logo o livro o mais caro seria o único livro de surf?!”. Fez jus ao preço, R$ 1.400 reais juntamente com o seu autógrafo e 274 páginas. Folheei com tanta cautela que quem me via, me confundiam com um paleontólogo achando um fóssil no meio do deserto, não contive as lágrimas. Entre outros meios, consegui o dito cujo e saboreei-o como o tal paleontólogo, eis o que descobri:



“A revolução foi imortalizada a preto e branco, numa tarde de domingo, no especo de 1/250 de segundo, 2 de outubro de 1966. Campeonato mundial de surf, Ocean Beach, San Diego. Quarenta mil espectadores enchiam a praia e o recém-inaugurado pontão de Ocean Beach. No preciso momento em que Robert ‘Nat’ Young, com dezoito anos de idade, ergueu o troféu com a forma da Califórnia sobre a sua cabeça, havia mais de trezentos e quarenta mil soldados americanos em Vietnam, Brian Wilson estava prestes a lançar a sua obra-prima ‘Good Vibrations’ e o LSD continuaria a ser legal por mais três meses. As pranchas de surf tinham, em média, dez pés e meio (3,2 metros) e pesavam quatorze quilos. Nat Young era então o campeão do mundo. E o mundo do surf acabava de assistir a ima viragem silenciosa de 180º.


Young, um jovem australiano alto e impetuoso, tinha ao seu lado no pódio o amável hawaiiano Jock Sutherland e Corky Carrol, um gênio californiano das ondas pequenas. Um punhado repórteres da imprensa regional e nacional, entre os quais jornalistas da Newsweek e do The New Yourk Times, digladiavam-se para conseguir chegar perto dos vencedores. Leroy Grannis, o único fotógrafo com contrato da revista International Surfing, manteve-se à beira da multidão, contornando-a e tirando fotografias com a sua máquina fotográfica Pentax S, corroída pelo sal. Num momento fulcral da cerimônia, focou a sua objetiva sobre Nat Young que, em júbilo, exclamou: ‘Sinto-me nas nuvens!’.

Apesar das emoções ao rubro na praia, Grannis demonstrou uma contenção estóica. Para ele, este acontecimento era tão-só o culminar de um ano de fins-de-semana a fotografar campeonatos de clubes em várias praias da Califórnia do Sul. Grannis, que então contava quarenta e nove anos, era fotógrafo de surf há seis e praticava surf há três décadas e meia. No fim-de-semana seguinte, o mais provável era estar em Malibu ou Huntington Beach para outro pequeno campeonato regional e o processo de qualificação para o campeonato mundial de surf começaria de novo.
Leroy Grannis deu os primeiros passos como fotógrafo de surf no final de 1959, mas não pretendia fazer desta atividade uma profissão ou arte. Era apenas mais um homem de família de meia idade, que procurava um passatempo para reduzir o estresse de sua profissão. Por sorte, pegou na máquina fotográfica numa altura fulcral da história do surf. Nascido em Hermosa Beach, na Califórnia, em 1917, Grannis era um herdeiro da tradição do surf da Costa Oeste, com as suas pranchas de madeiras de sequóia, e testemunha de uma época em que uns escassos duzentos surfistas da Califónia deslizavam com enormes pranchas de onze pés (3.3 metros) nas ondas pouco cavadas de San Onofre e Palos Verdes Cove, com dignidade e cavalheirismo – realmente, cavalheirismo era a palavra exata para a dança surfística da época. Foram a primeira geração de surfistas do continente a aderir a este ancestral desporto, recém-exportado pelos hawaiianos George Freeth e Duke Kahanamoku, e também fizeram parte do renascimento do surf, que foi iniciado por um punhado de hawaiianos em Waikiki no final do século XIX.

Grannis cresceu a um quarteirão do mar, em Hermosa Beach, e começou a surfar aos quatorze anos com uma prancha de madeira emprestada, que pesava quase quarenta e cinco quilos. Foi nesta praia, onde deslizava nas ondinhas que rebentavam por baixo do pontão de Hermosa Beach, e John ‘Doc’ Ball. Um afável estudante de medicina dentária na Universidade do Sul da Califórnia, que era dez anos mais velho do que Grannis. Os três tornaram-se amigos para a vida.

Doc era um surfista experiente e não tardou à convencer os adolescentes Grannis e Swarts a enfrentarem as ondas mais encrespadas de Palos Verdes Cove, oito quilômetros mais ao sul. Esta praia era como uma segunda casa para um grupo zeloso de surfistas dedicados, na sua maioria jovens de vinte e poucos anos sem emprego, que estavam à espera de vencer a Grande Depressão em um grande estilo, mas com pouco dinheiro. Este grupo auto-dependente construía as suas próprias pranchas, fazia os seus próprios calções de surf e os poucos tostões que os jovens conseguiram reunir eram gastos em gasolina, (e, por vezes, numa garrafa de vinho barato) para viagens à Malibu ou San Onofre. Muitos deles eram também mergulhadores experientes e, não raras vezes, apanhavam autênticos banquetes de lagosta e bivalves nas piscinas formadas pela maré.




Em 1935, Doc fundou o Palos Verdes Surfing Club (P.V.S.C.), e no ano seguinte, convidou Swarts e Grannis (que entretanto recebera a alcunha de ‘Granny’) a juntarem-se ao grupo.

Esta famosa foto de Grannys que mostra Dewey Weber

em um momento imortalizado pelo momento

06/10/2009

Um presente

Um presente para todos os apaixonados do mundo do surf. Um vídeo que faz arrepiar até mesmo os mais insensíveis. Blue Horizon, em seu extra, captou integralmente o "feeling" desta época dourada.




"But somehow I know it won't be the same
Somehow I know it will never be the same"


Referência: Blue Horizon

27/09/2009

Sutil Detalhe

Estava eu sentado em meu sofá, em uma noite de primavera praiana com um vento nordeste a mais de 40 km/h, vendo pela vigésima vez o filme Endless Summer II. Em uma certa cena, na parte em que os surfistas estão na Costa Rica dançando em um baile local, eu vejo um detalhe que não me era estranho, por sinal, era muito familiar. Voltei a cena e me deparei com aquela clássica mulher dançando com uma garrafa de cerveja em sua cabeça, e no momento em que ela fica de costas para a camera, o logo estampado em sua camiseta deixa bem explícito a imagem na qual eu me senti familiarizado. Eis a imagem:


14/09/2009

Greg Noll: Parte III

O auge da carreira de Greg veio em 1965, quando sucedeu sua formação fazendo uma aliança de negócios com seu amigo de infância, na época o “bad boy” lenda de Malibu, Mickey Dora para fabricar e vender as pranchas “Da Cat”. Greg trabalhou diretamente com Dora para criar uma das mais importantes anunciações que a história do esporte já teve. O negócio simplesmente explodiu. “Eu estava fazendo 175 pranchas por semana”, diz Greg, “dúzias de empregados, publicidades, negociadores, tudo em cima de mim e os preços caindo”.





Em 1969, Greg mais uma vez retornou ao Hawaii, e parecia que chegou na hora certa e no momento certo. Em 4 de dezembro um épico swell chegou na costa. O surf estava gigantesco. As casas foram lavadas da Avenida Kam, conseqüentemente, para chegar à sua amada baía, ele teve que contornar os bairros e resorts, onde um enorme swell estava quebrando sobre a baía e não podia ver nada além de espumas e ondas ao horizonte – sem surf naquele local.

Então Noll pegou a estrada devastada com crateras e pedaços de casa em torno de Kaena Point para o lado Oeste e velha Makaha, onde ele pegou a sua última onda de sua carreira de surfista – a qual fez seu nome gravar para a história do surf no qual conta a vocês hoje – uma onda gigantesca que nenhum homem havia remado. Esse foi seu “adios”. Greg diz, “foi esse dia que a minha fixa caiu e minha vida fez uma reviravolta”.

No final da década de 60 houve tanto a reviravolta na vida de Greg, quanto na cultura surfística e geral – com os longboards sendo substituídos pelas shortboards, e a cultura hippie em face da guerra do Vietnam. “Era uma coisa totalmente diferente, para mim era repulsivo. Eu não entendia isso. E quando o meu pai faleceu, eu estava pronto. Eu pensei que a culpa de San Andreas iria cair rachar e toda L.A. iria descer direto para o esgoto”, diz Greg a respeito.

Em dois anos, Greg havia vendido sua fabrica, botou 15 anos de papéis de trabalho dentro de caixas temporárias em sua garagem (e que ainda está lá). “Laura – mulher de Greg – e eu pegamos um pequeno trailer que eu havia concertado e dirigimos todo caminho até o Alaska procurando um lugar para nós estabelecermos uma nova vida. Nós ficamos por aqui, e conheci alguns índios, então subimos e caçamos veados e pescamos por mais ou menos uma semana, e assim que eu disse, ‘É isso!’, e a maioria disto não parava de acontecer!”.

“Aqui” era Crescent City, onde Greg e Laura atualmente ainda vivem empoleirados no topo de Smith perto do Cabo Hole, um dos melhores lugares a pescar truta no rio. Greg se entranhou no comércio pesqueiro na década de 70, possuiu um barco e fez jus àquilo. Pegou massas de peixe, mas nunca navegou muito longe da costa. Laura e Greg criaram e educaram sua filha Ashyline e Jed. Mais tarde, a primeira esposa de Greg e seus filhos, Tate e Rhyn se mudaram para a área. A vida havia se acalmado em um ritmo que, por volta de 1985, Greg recebeu uma ligação de seu antigo amigo, Buffalo.

“Então Buffalo me liga, e me diz, ‘Hey, venha para o Sul, beber cerveja’, eu respondi, ‘Onde está você?’, ele respondeu, ‘”Eu estou em um espetáculo esportivo no sul da Califórnia’. Então Laura e eu viajamos para lá, andamos para dentro desta convenção, onde era onde tudo estava acontecendo – garotas com seus peitos ao vento, pessoas vendendo tudo em nome do surf – e eu estava visualizando todos esses Gotchas e Quiksilvers e Billabongs”.

“Continuando, fiz amizade com Jeff Wetmore, a quem era responsável por este espetáculo. Acabamos ficando bem amigos – pescando, indo para Baja – e conversávamos, e ele começou a puxar essas histórias de mim, finalmente me dizendo, ‘Greg, nós precisamos registrar tudo isso antes que você caduque’. Então ele me apresentou a Andrea Gabbard, e foi assim que lancei o livro (Da Bull: Life Over de Edge). Entre este tempo, Jeff me pede, ‘Olha, eu quero que tu me faça uma prancha – qualquer coisa que você querer – com laminações de redwood ou qualquer coisa’. Eu construí uma prancha, ele a botou pendurada em sua parede e eu nunca mais parei daí em diante”.


Atualmente, Greg trabalha com seu artesão e filho Jed, fazendo em média doze pranchas por ano. Cada uma, uma clássica recriação ou inspiração, sendo aplainadas, cinzeladas, e esculpidas por madeiras redwoods, Koa hawaiiana, cedro Pord Orforf, ou outros tipos de materiais que os historiadores simpatizantes pedem. Fazendo recriação das antigas Olos, das pranchas de Duke Kahanamoku, dos raros Hot Curls, as pranchas de Simmons, e outras especiarias. As maiorias das encomendas custam milhares de dólares e são de colecionadores que não botaram estas muito cedo na água. Greg é um perfeccionista, sendo suas pranchas bastante requisitadas, tendo todo o trabalho que ele precisa. Enquanto isto, há um gigantesco interesse apenas das pranchas antigas.

Whitey Harrison, Doc Ball, Leroy Grannis

e Greg Noll

Pranchas que em 1962 ele vendia por R$ 120, hoje atualmente pode chegar dos 5 à 10 mil dólares. Leilões de pranchas tornaram-se grandes eventos e muitas vezes tendo fóruns para levantar dinheiro para organizações sem fins lucrativos. O mercado dos colecionadores está no auge, e algumas das mais desejáveis pranchas são as de Greg.




Enquanto a história do nosso esporte vem cada vez mais documentada, a história das pranchas, como uma expressão de progressão de designes e materiais, assume uma concomitante importância. Para os historiadores, assim como eu, estes veículos são uma sublime interpretação do espírito criativo dos tempos. Mas a arte de Greg Noll encontrou uma culminação ao se basear nas pranchas primitivas – primitiva não em sua função ou estética, mas sim em seu histórico e criadores. As curvaturas e músculos das quebrantes ondas estão talhadas entre esse raro, e feito à mão trabalho, e a inspiração de Noll é encontrar um essencial casamento da memória sólida inerente à madeira, com a rápida movimentação de forma inerente da onda.

"Nolldini"

“Aqui está ela, a mesma linda mulher (se referindo a Waimea Bay), mas só que agora está paquerando a próxima geração e a geração seguinte. Mas a última vez que a vi, eu juro por Deus cara, eu a olhei e notei que ela piscava para mim. Você sabe, quando aquela série grande vinha, o sol dançando sobre ela e o vento a acariciando, ela me olhou e disse: - Ei Greg Noll, eu lembro de você.” – parte retirada do filme Riding Giants na qual faz qualquer um se emocionar.

Bibliografia: Riding Giants; Greg Noll - The Art Of The Surfboard

31/08/2009

Greg Noll: Parte II

Foi assim que começou a carreira de Greg. Ao retornar para Califórnia, se casa com sua namorada de colegial, trabalhando como salva-vidas e fazendo pranchas. Entrou fundo no estilo de vida retornando todo inverno ao Hawaii, onde ele encontrava o seu desafio em ondas gigantes fazendo com que seu limite fosse seu próprio medo puxando ainda mais. Greg se torna rapidamente amigo de um grupo de surfistas locais de grande espírito, notavelmente Buffalo Keaulana e Hanry Preece. Ele surfou grandes dias ao lado de Buzzy Trent, José Angel e Pat Curren. Greg autorizou Waianae Tailor M. Ni’i para fazer a ele um par de bermudas estilo presidiário (branca e preta), quase uma gozação, assim ficando um símbolo de seu crescente fascínio pelas ondas grandes.


As ondas de Waimea Bay eram conhecidas como kapu (proibidas) para os surfistas desde 22 de dezembro de 1943, quando Woody Brown e Dickie Cross tiveram sua terrível história passada por estas águas (http://backtosinglefins.blogspot.com/2009/05/dickie-cross-22-de-dezembro-de-1943.html). Mas no dia 7 de novembro de 1957, claramente em sua instigação, Waimea foi surfada pela primeira vez por uma dúzia desafiadora de surfistas, incluindo no meio Pat Curren, Harry Schurch, Del Cannon, Mickey Muñoz, Mike Stange, Bob Barmell, e não menos importante, Greg, proclamando o fim do tabu.




Diz Stange, “No primeiro dia em Waimea, ninguém tinha esta idéia de surfar aquelas ondas, exceto Noll”. Dalí em diante, a perseguição de ondas grandes estava apenas começando.

“Greg era bom e engraçado para surfar junto porque era tão competitivo! Quando ele era jovem, era um surfista hotdog, mas quando começou a ficar velho e maior, ele se focou em ondas maiores. Ficava sentado lá fora com José Angel, Ricky Grigg, George Downing, e o resto da gangue, e se alguém de nós pegássemos uma onda boa, ele imediatamente remava para mais fora ainda e sentava lá, hiper-ventilando, esperando uma onda maior ainda! Uma coisa que eu me lembro é quando ele pegou uma onda gigante e eu juro que ele estava com os olhos fechados”, Peter Cole brinca e relembra.

Greg queria surfar também outros tipos de ondas também, seguindo os passos de Bud Browne, filmando o surf e os surfistas de Austrália, Hawaii, e México, produzindo seu primeiro filme, Search For Surf, demonstrando em casas de clube e auditórios de cima para baixo da costa e nas ilhas. Ele fez mais três filmes – “tão bons que não haviam outros”, diz Bruce Brown.

No meio dos anos 60, Gidget foi para Hollywood, o surf explodiu, e a bermuda-presidiária de Greg se tornou um ícone cultural, simbólico das ondas grandes e um destemido compromisso. Noll se tornou um monólito vivo de ondas grandes. Em dezembro de 1964, ele fez jus ao seu limite, remando ao mar adentro em um dia gigantesco para surfar nas magníficas ondas da Terceira Bancada de Pipeline.




Enquanto isso, ele apostou sua reputação (e suas consideráveis habilidades de shapear) daquela primeira garagem no qual ele surfava para finalmente para a fabrica Greg Noll Surfboards’ Hermosa Beach, na qual se fazia de tudo lá dentro.

Dentro deste curso que estava durando 10 anos, pranchas de surf progrediram de Balsa para a tecnologia poliuretano e fibra de vidro, fazendo com que ficasse a tempo para tal demanda.

Em fato, a crítica falta de Balsa coincidiu precisamente com os avaliáveis novos materiais. As operações de Noll foi o eixo-central de uma nascente indústria de surf, sendo seguido por outros severos fabricantes (incluindo Jacobs, Bing, Rick, e Dewey Weber em Venice), que coletivamente fez com que South Bay fosse o centro do universo das pranchas. A maior fabrica de todas era a de Noll, na qual era a única que tinha tal habilidade de produzir os blocos de poliuretano independentemente.

“Nós começávamos com 50 galões de material entrando na saída de traz do prédio. Nós misturávamos os polímeros para fazer a espuma e trazíamos o resto do ingrediente para pôr tudo em um misturador automático, que seguidamente entravam em um molde e saíam como blocos de poliuretano. Havia uma maquina que cortava as extremidades e cola para colar as longarinas, assim, deixávamos repousando. Finalizando, as pranchas eram shapeadas, laminadas, a quilha era colocada, lixada, polida, pintada e depois polida novamente. Isso começava num extremo da fábrica e saía pranchas de surf no outro. E cada um desses passos tinha um departamento distinto um do outro, a gente tinha 67 homens trabalhando ao mesmo tempo”, diz Noll.





12/08/2009

Greg Noll: Parte I

O que eu poderia dizer a respeito de Greg? Acho que eu não teria uma argumentação suficientemente satisfatória para descrever tal ícone do surf, um grande desbravador e shaper, um ótimo salva-vidas e um remador nato. Greg é o avô que todo neto queria ter.


Conhecido como “Da Bull”, nasceu como Greg Lawhead em 11 de fevereiro de 1937, trocando seu nome após sua mãe, Grace, se casar com Ash Noll, um químico. Eles viviam perto do píer da praia de Manhattan, onde o jovem garoto trabalhava como pescador e lavador de prato. Fora do píer, aumentava sua sabedoria sobre a pesca sentindo a euforia das “cook box” e das pranchas de redwood deslizando as ondas abaixo. Isso, ele pensava, que era aquilo que queria fazer em sua vida.

Naquele tempo, as típicas pranchas pesavam de 28 a 45 kg, e o surf era praticamente para os homens. Mas na praia em baixo do píer, um jovem chamado Dale Velzy estava shapeando pranchas com as inovadoras madeiras Balsa, sujando a praia em volta do Manhattan Surf Club com as aparadas de madeira de sua nova “Malibu chips”. Estas chips eram menores e mais leves, facilitando que crianças e mulheres pudessem surfar.

Em 1950, em conseqüência da ampla sujeira que ele estava causando, Velzy foi forçado a mover seu trabalho da praia para um lugar não muito longe. Seu novo lugar foi em Manhattan Beach Boulevard e Ocean Drive foi a primeira loja de surf no mundo, e para Greg, que havia sido seduzido pelo encanto de seu mentor, este foi um extraordinário lugar onde um punhado de madeira entrava pela porta e saía como pranchas.

Dale Velzy tinha um forte caráter – um beberrão e um amante de mulheres e carros velozes. Passando a maior parte de seu tempo livre rodeando a antiga loja de Velzy, que Greg aprendeu suas habilidades fundamentais de shapear e laminar pranchas. Aprendeu o básico de trabalhar em Balsa, tecido e resina. Começou a trabalhar como reparador de pranchas, onde mais tarde foi promovido para um status mais confiável enquanto a balsa entrava em moda. A Balsa na época (atualmente também) era muito cara, então os surfistas traziam suas pranchas típicas do Pacific Home Systems para re-shapear, onde eram feitas com combinações de redwood e Balsa. Retirando as bordas de rewood da prancha e modelando a prancha somente de balsa.

Isso tornou o ofício de Greg em remover as madeiras velhas das pranchas e mandar para Velzy fazer seu trabalho modelando uma prancha mais contemporânea e limpa, assim laminando após. A primeira prancha que Greg shapeou foi de um rapaz chamado Jerry Cunningham, cujo rapaz trouxe a prancha para ser re-shapeada e transformada em uma nova “Malibu chip”. Após de ter retirado as redwood da prancha, Greg trouxe para Velzy terminar o trabalho, mas como Velzy havia esquecido, Greg aproveitou e pegou suas ferramentas e shapeou a prancha por completo. Quando Velzy chegou e viu a prancha pronta, ele olhou para Greg... olhou para a prancha... olhou para Greg... olhou para a prancha... foi daí que Greg tocou a última vez nas ferramentas de Velzy.
Obviamente que o dono da loja havia reparado certa competição futura, em diante, Greg começou a fazer sua própria prancha.

Noll shapeou sua primeira prancha entre o varal do quintal de casa de seus pais, mas foi rapidamente banido quando seus pais testemunharam a catastrófica conseqüência de todo o processo. Então mudou seu trabalho para uma garagem de duplo espaço em Homer Street em Manhattan Beach começando, assim, a construir pranchas para si e seus amigos. Ele tinha uma dádiva no quesito trabalho artesanal, rapidamente fazendo com que suas pranchas fossem singulares pela vizinhança.

Enquanto isso, Greg estava desenvolvendo suas habilidades na água. Embora ele fosse um garoto rígido, ele era forte. Era um ótimo remador (alguns dizem que 90% do surf é a remada) mais tarde tornando-se um salva-vidas de Los Angeles. Tirou em 3º lugar em uma travessia chamada Catalina – uma remada de 26 milhas da ilha ao continente – apesar de ter se perdido na neblina e ter chegado à terra firme 6 milhas acima da costa. O treino de salva-vidas deixou ele em uma forma física elevada dando a ele um ótimo conhecimento dos riscos do oceano, assim o prevalecendo em ondas grandes.

Surfando nas menores, mais radicais e leves pranchas de madeira Balsa que Velzy o ensinou a construir, Noll se transformou um dos melhores surfistas de “South Bay” e Malibu, tendo seu estilo próprio e copiado no meio da década de 1950. Mas ele descobriu o seu amor verdadeiro nas ondas grandes encontrando um lugar perfeito a isso em Lunada Bay, fora da península de Palos Verdes, na qual recebia os típicos swells de inverno tanto no quesito estabilidade quanto no de tamanho e potência.

Aproximadamente em 1954, quando seus amigos mais velhos começaram a imigrar às ilhas hawaiianas em busca de ondas grandes de Makaha, o garoto de 16 anos estava apto para o desafio. A tentação do Hawaii por Greg e seus amigos californianos foi registrada por Bud Browne, um cinegrafista no qual criou o gênero filme surfístico. Suas imagens de ondas transparentes sendo alisadas gentilmente pelas brisas tropicais foram muito para resistir, mas a realidade de viver e surfar nas ilhas veio com um preço. Greg tinha que merecer o respeito dos locais do relativamente isolado lado oeste de Oahu, isso mais tarde significaria em levar uma surra. “Eu achava que era um pequeno preço a pagar para ter a chance de tomar cerveja, ouvir a música ao vivo, e ser parte da gangue”, diz Greg.


Foi a sua remada que mereceu Noll um lugar no time de salva-vidas U.S. que viajou para Austrália para competir a remada e o surf-salvamento coincidente com os Jogos Olímpicos de 1956 em Melbourne. “Mike Bright, Tommy Zahn, Bob Burnside, Bob Moore, e eu trouxemos as nossas pranchas para Torquay”, Noll relembra, “Isso foi depois da corrida de remada, e Mike Bright e eu pegamos as nossas pranchas e remamos para dentro d’água. Eu me lembro de ter pego uma onda, virar um pouquinho, e fazer um pequeno cutback, e então olhei todas essas pessoas gritando em torno da praia, eu pensei que alguém havia sofrido algum ataque no coração”.

Naquela época, as pranchas australianas tinham como modelo-base somente a prancha de Duke, quando este visitou o continente em 1914 deixando sua prancha para os locais seguir em frente a prática. Sendo que em 1956 a última geração de pranchas eram as Cook Box e as Redwood Planks. Um grande crowd tomou conta da praia, junto com a imprensa, fazendo Noll e sua companhia, primeira página do jornal Sidney.

O patrocinador da Olimpíada, Ampol Oil, filmou tudo, fazendo circular em quase todos os clubes de surf do país. Daquele dia em diante, o Aussies ainda chama as pranchas tradicionais de “Mal”, em consideração às Malibu’s ships.Greg bota em questão, “O surf em si tem uma relação na cultura australiana. Se não fosse nós, poderia isso ter acontecido com qualquer outra pessoa, mas o nosso surf atingiu feito um cometa. Da carroça eles partiram para o Porsche”.